Da submissão à decisão – como está a aceitação dos artigos de autores brasileiros?

Estudo da Clarivate Analytics revela tendências de rejeição e aprovação de artigos em revistas indexadas na Web of Science. 

O panorama da pesquisa está mudando. A taxa de crescimento anual das revistas científicas e acadêmicas é de 3,5%, o que significa que, com o número atual de títulos, há quase mil novos periódicos a cada ano – e isso só continuará aumentando. Analisando os dados de submissões, revisões e decisões de revistas nos últimos cinco anos (2012 – 2016), quais tendências sobre a publicação científica emergem?

Utilizando dados agregados do ScholarOne Manuscripts e da Web of Science, especialista da Clarivate Analytics realizou um estudo explorando informações por país, região do mundo, categoria do assunto e o que todos esses dados podem significar para o futuro: são insights de publicação científica. Ian Potter [1], da Clarivate Analytics, apresentou sua análise em outubro de 2017, na Feira de Livros de Frankfurt. 

Figura 1

O estudo está em andamento e baseia-se em dados agregados da plataforma de envio e revisão de artigos ScholarOne, sistema de gerenciamento de fluxo de trabalho para periódicos científicos, livros e conferências que congrega 6.700 títulos, 10 milhões de autores, 1.9 milhões de submissões por ano. De acordo com o estudo, 72% de submissões no ScholarOne são para títulos indexados na Base Web of Science (WoS) dos quais 35% encontram-se nos Quartis mais elevados. 

Os dados são baseados no ano de submissão e nas taxas de aceitação ou rejeição dos manuscritos submetidos. Nenhum detalhe em relação aos editores foi divulgado. O mapeamento na Web of Science foi realizado em revistas constantes do SCI-E [2] e SSCI [3]. O país refere-se aos dados de inscrição do autor. As áreas de conhecimento baseiam-se na Categoria WoS (de 252 áreas de conhecimento) e ESI Research Field (com  22 áreas) para as revistas, ordenadas a partir do maior percentil de classificação do Fator de Impacto das revistas, que podem estar em mais de uma categoria. 

Em geral, observa-se que houve um declínio na taxa geral de aceitação, combinado com um aumento lento na taxa de rejeição imediata ou seja, devolução do manuscrito sem revisão, conforme demonstra o Gráfico a seguir (Figura 2). 

Figura 2

Em relação às áreas de conhecimento, de maneira global, observa-se que as submissões de artigos cresceram em 2016 em relação a 2012, com certas áreas exibindo aumento mais significativo que outras, conforme demonstra a Figura 3, abaixo. As submissões cresceram em áreas como Clínica médica, Química, Engenharia, Ciências Matemáticas, e Ciências Sociais e em áreas não indexadas, na comparação entre 2012 e 2016.

Figura 3

De fato, o estudo destaca as áreas de Química multidisciplinar, Engenharia Elétrica e Eletrônica, Ciências Ambientais, Ciência e Tecnologia de Alimentos, Ciência de Materiais multidisciplinar, Medicina Geral Interna, Medicina de Cuidados Críticos, Energia e Combustíveis, Ciência dos Materiais – Biomateriais, Nanociência-Nanotecnologia, e Nanociência-Nanotecnologia em Física Aplicada, conforme apresentado nas Figuras 4 e 5, a seguir.  

Figura 4

Figura 5

Segundo o estudo, os percentuais de aceitação de artigos (em verde) e de rejeição sem revisão (em roxo) variam bastante de área para área de conhecimento, conforme demonstra o Gráfico abaixo (Figura 6). De fato, a área que apresenta taxa mais alta de rejeição sem revisão é a área de Ciências Agrárias e a área que apresenta percentual mais alto de aceitação é a área de Ciências Espaciais. De qualquer modo, as taxas de rejeição das revistas podem variar muito. De acordo com o relatório de 2013 da American Psychological Association, seus principais periódicos tiveram uma taxa de rejeição de aproximadamente 76%. A Elsevier, uma das maiores editoras do mundo, reivindica uma taxa de 30% a 50%, e um artigo de 2013 da Nature Materials relatou uma taxa de cerca de 87% de rejeição, com apenas cerca de 60% aceitos após a revisão por pares [4].

Figura 6

De acordo com a área geográfica, observa-se que, em geral, as taxas de aceitação direta (em verde) de artigos se mantiveram iguais. O único país que apresentou certa melhoria nesse quesito foi o Brasil, enquanto a Índia teve ligeira queda em 2016 em relação a 2012 (Figura 7). 

Figura 7

Atrás de Estados Unidos, China, Índia, Reino Unido e Irã está o Brasil. Com relação aos artigos gerados por autores brasileiros, observa-se que de 2012 a 2016 houve uma pequena melhora nas taxas de aceitação direta (em verde) e na proporção de rejeições com revisão (roxo), enquanto que as taxas de rejeição direta (azul claro) recuaram um pouco, de acordo com a Figura 8 abaixo.   

Figura 8

Com relação à proporção de submissões entre 2012 e 2017, observa-se uma paridade de submissão entre EUA e China em 2017, de acordo com a Figura 9, a seguir, com melhora significativa na proporção de submissões do Brasil. 

Figura 9

Ainda segundo o estudo, a maior parte dos revisores (reviewers) localizam-se nos Estados Unidos, Reino Unido, China e Japão, conforme demonstra o Gráfico a seguir (Figura 10). Há um grande número de revisores (295 mil) sem identificação de país de origem. Para cada 10 revisores selecionados, 8,5 foram convidados, 4,4 concordaram em revisar e apenas 4,2 completaram sua revisão. 

Figura 10

O estudo demonstra que a agregação de dados do ScholarOne com métricas e análises da Web of Science nos permite conectar os pontos entre entradas e saídas no ecossistema de publicação científica, como quantos trabalhos são enviados, de onde eles vêm, se são aceitos e rejeitados, e onde foram publicados. Essas análises fornecem informações valiosas sobre as tendências que moldam o atual panorama da publicação científica no mundo e nos levam a mais perguntas. 

Rejeitado sem revisão. Por que?

Embora seja quase consenso que os manuscritos devam passar pelo processo de revisão por pares para serem publicados, de fato, eles podem ser rejeitados sem qualquer revisão, principalmente em revistas científicas de alto impacto. É essencial entender as possíveis razões. 

O número de manuscritos submetidos aumenta a cada dia, especialmente para revistas de primeira linha, levando à constante necessidade de otimizar recursos, tempo e o esforço dos editores e revisores. 

Ainda que a situação dos artigos de autores brasileiros esteja melhorando pouco a pouco, saber os motivos da rejeição sem revisão dos manuscritos é importante para os pesquisadores e pode melhorar a qualidade dos artigos submetidos. Nesse sentido, com base em fontes de informação diversas sobre a questão [4], [5], [6], elencamos algumas possíveis razões para a rejeição pré-revisão:

  • Redação em inglês ruim. Observe que não é mais necessário utilizar sempre a terceira pessoa; os editores preferem a primeira pessoa e a linguagem explicativa e não a declarativa. Em outras palavras, não basta dizer ao leitor quais são os resultados, é preciso explicar como eles foram determinados.
  • Conteúdo do artigo não condiz com o escopo da revista. 
  • A apresentação do manuscrito não segue a formatação, o estilo e as instruções da revista. As figuras ou tabelas não estão completas ou não estão suficientemente claras para serem lidas.
  • O artigo contém percentual significativo de conteúdo plagiado ou sobreposição com trabalho existente.
  • A pesquisa é pobre. As conclusões não refletem os resultados. Os resultados apresentados são muito preliminares ou superficiais. Falta clareza ou concisão na apresentação. 
  • O tópico do artigo é muito especializado / nicho. O conteúdo não reflete aplicação global. 
  • Os resultados não são novos ou significativos o bastante, pois levam apenas a um avanço incremental no campo da pesquisa.
  • Citações ou referências bibliográficas estão incompletas ou desatualizadas.
  • Restrições de espaço para publicar. Artigos submetidos são mais longos do que o permitido.
  • Eventualmente, grupos de pesquisa emergentes podem sofrer rejeição por parte de editores de periódicos que integram grupos de pesquisa competitivos.

A realização de pesquisas em grupos internacionais e a produção de artigos em co-autoria podem ser pontos de partida positivos. 

Em conclusão, é preciso destacar o trabalho árduo por trás da publicação de artigos nas melhores revistas científicas internacionais e a importância da visão estratégica dos pesquisadores.

== Notas e Referências ==

[1] POTTER, I. Connecting the dots: from submission to decision, the fate of scholarly papers. Frankfurt: Clarivate Analytics, Oct. 2017. Disponível em: <https://www.aguia.usp.br/wp-content/uploads/2018/06/Clarivate_2017-FBF-Hotspot-Connecting-the-dots-1.pdf> Acesso em: 12 Jun. 2018. 

[2] Science Citation Index Expanded (SCIE) contém todas as revistas classificadas pela Web of Science na área de Ciências entre as revistas mais citadas em sua categoria ou categorias. Nesse sentido, é mais abrangente que o Science Citation Index (SCI).

[3] Social Sciences Citation Index (SSCI) contém todas as revistas classificadas pela Web of Science da área de Ciências Sociais. 

[4] REJECTION without Peer Review: Issues and Solutions. Enago Academy, May 2018. Disponível em< https://www.enago.com/academy/manuscript-rejection-without-peer-review/> Acesso em 12 Jun. 2018.

[5] BINGHAM, M. Rejected without Review: Here’s why it happens. Max Bingham Blog, 2012. Disponível em: <http://www.maxbingham.com/blog/2012/03/rejected-without-review-heres-why-it-happens/> Acesso em: 12 Jun. 2018.  

[6] THROWER, P. Eight reasons I rejected your article. Elsevier, Sept. 2012. Disponível em: <https://www.elsevier.com/connect/8-reasons-i-rejected-your-article> Acesso em 12 Jun. 2018. 

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Como citar este post [ABNT/NBR 6023/2002]:

DUDZIAK, E.A. Da submissão à decisão – como está a aceitação dos artigos de autores brasileiros? Disponível em: <https://www.aguia.usp.br/?p=23518> Acesso em: DD mês. AAAA.