Novo relatório do ISI – Web of Science sobre o Plano S levanta questões para a comunidade de pesquisa

Um novo relatório sobre o Plano S [1] do Institute for Scientific Information (ISI), usando dados da Web of Science, coloca uma série de questões para a comunidade de pesquisa, incluindo financiadores, editores e instituições. Este é o segundo relatório da série Global Research do recentemente relançado ISI.

O relatório intitulado “A pegada do Plano S: implicações para o panorama da publicação acadêmica” (em inglês “The Plan S footprint: Implications for the scholarly publishing landscape“) [1] examina os padrões recentes de publicações financiadas pelos apoiadores do Plano S, explorando potenciais impactos sobre os próprios financiadores, áreas de pesquisa, países, editoras e revistas. Esta matéria é uma tradução livre do relatório e apresenta os principais resultados. 

O relatório fornece informações para análise e debate sobre uma transição no sistema de pesquisa. O Plano S, lançado pela Science Europe em 4 de setembro de 2018, destina-se a aumentar o acesso aberto (OA) a dados e resultados de pesquisa produzidos com financiamento público por pesquisadores. Vinte agências financiadoras aderiram ao Plano S em dezembro de 2018. Espera-se que o acesso aberto acelere a descoberta e a inovação científica. O Plano S requer que os resultados da pesquisa financiada por organizações signatárias seja publicada em repositórios abertos ou em periódicos onde todos os artigos são acessíveis ao público em acesso aberto. Este relatório analisa padrões recentes de documentos financiados por apoiadores do Plano S usando perspectivas relacionadas aos financiadores, países, editores e periódicos.

Jonathan Adams, diretor do Institute for Scientific Information, disse: “Nosso relatório, baseado em dados de periódicos tirados do Web of Science Core Collection, procura fornecer uma análise de fundo imparcial e baseada em dados para informar o debate sobre uma mudança potencialmente transformadora na política de pesquisa. O relatório levanta uma série de questões para consideração por financiadores, editores e instituições ao explorar possíveis maneiras de implementar o Plano S.”

O relatório coloca as seguintes questões, que são apoiadas por dados:

  • Algumas áreas de pesquisa têm muito poucos periódicos que estão atualmente em conformidade com o Plan S. Sem uma transição cuidadosamente estruturada para permitir o surgimento de novos títulos, existe o risco de restrições incomuns e disjunções nas oportunidades de publicação em assuntos afetados?
  • As citações não são uma métrica definidora de qualidade, mas a reestruturação da disseminação de artigos bem citados pode ter conseqüências contingenciais não planejadas?
  • Como a mudança para o Gold Open Access e as APCs associadas pode ser gerenciada de forma eqüitativa para proteger as posições de pesquisadores não financiados nas economias do G20 e de uma disseminação mais ampla de autores em regiões emergentes de pesquisa?
  • As grandes editoras, com diversos títulos estáveis, serão influentes nas discussões, mas há muitas pequenas editoras, incluindo aquelas ligadas a sociedades acadêmicas, que publicam uma parte importante da produção financiada pelo Plano S em séries centrais de sua disciplina. A transição será mais difícil para eles e, em caso afirmativo, isso pode ser gerenciado de forma eficaz, mas flexível?

O conjunto de dados do relatório é composto por registros de publicações retirados dos mais de 20.000 periódicos da Coleção Principal do Web of Science. Esses registros foram filtrados para o conteúdo publicado em 2017 e os documentos incluem artigos e resenhas. Anais (proceedings) não são identificados como um tipo de documento nas propostas do Plano S.

Os registros de documentos no Web of Science contêm “agradecimentos”, que incluem fontes de financiamento. Estes foram utilizados para identificar documentos patrocinados por organizações financiadoras relacionadas ao Plano S, por referência cruzada a uma lista de variantes financiadoras com curadoria manual. Isso permitiu uma ampla captura de documentos que seriam afetados pelos mandatos do Plano S. Não foi possível identificar o financiamento do Plano S em alguns casos e também alguns documentos não foram incluídos por falta de dados ou variações obscuras de nomes de autores. Os financiadores do Plano S respondem por cerca de 6% dos artigos indexados na Web of Science. Eles estão concentrados em cerca de 10.000 dos 20.000 periódicos indexados. Os registros financiados pelo Plano S, portanto, representam uma estimativa mínima dos trabalhos do Plano S publicados e indexados na Web of Science. Confira alguns resultados a seguir.

Financiadores
Alguns financiadores de pesquisa já endossaram as propostas do Plano S para ampliar o acesso aberto. A pesquisa que eles apoiam representa cerca de 6,4% dos artigos publicados e indexados na base Web of Science em 2017; a União Europeia financiou cerca de metade disto. Embora a conformidade com o acesso aberto já seja substancial, a proporção varia de acordo com o financiador. 

Áreas de pesquisa
Os mandatos existentes em áreas de pesquisa bem financiadas pelas organizações do Plano S levaram ao cumprimento relativamente alto do acesso aberto. Outras áreas de pesquisa como Ciências Sociais, recebem relativamente menos financiamento do Plano S e têm menor conformidade. Áreas de pesquisa significativamente desafiadoras considerando o Plano S são aquelas que atualmente demonstram baixa adequação ao acesso aberto. Revistas atualmente em conformidade com o plano S não estão distribuídas uniformemente nas distintas áreas de pesquisa.

Frequência de citação
Em 2017, a contagem de citações das publicações de pesquisas financiadas pelo Plano S é maior, em média são mais frequentemente citados que outros papers, e isso é verdade em todas as áreas de pesquisa.

Países
Sob o Plano S, alguns países europeus publicariam mais de 40% de seus resultados em acesso aberto. Isso pode chegar a 50% onde o financiador nacional também é um apoiador do Plano S.

Cerca de 19% dos documentos europeus gerados em colaboração a partir de financiamentos internacionais europeus são apoiados pelos financiadores do Plano S e, portanto, envolvem pesquisadores não participantes do Plano S. Os Estados Unidos são (em termos absolutos) o segundo maior produtor de artigos que reconhecem o financiamento do Plano S e uma alta proporção dos resultados de algumas instituições é suportado pelo Plano S. Mas o governo dos EUA ainda tem que endossar o plano.

Publishers
No panorama dos dados dos editores, é possível desenhar um cenário diverso entre as 200 maiores casas publicadoras, que coletivamente publicam 95% dos documentos reconhecidos pelos financiadores do Plano S. Existem aqueles que não são fortemente afetados; outros pouco afetados; alguns (incluindo grandes casas publicadoras) afetados significativamente; e os editores de acesso aberto que estão bem posicionados. Casas menores, incluindo algumas sociedades acadêmicas, apresentam situações diversas e não estão prontamente categorizadas.

Revistas
Os resultados financiados pelo Plano S perfazem menos de 7% dos periódicos globais, mas eles são bem citados, publicados em periódicos de alto impacto e, muitas vezes, em revistas de grandes editoras. Eles influenciarão o panorama editorial. Cerca de 90.000 documentos publicados do Plan S em periódicos híbridos precisam ser “realojados” se os periódicos não mudarem integramente para o acesso aberto. Existem poucas revistas híbridas com um percentual médio a alto de acesso aberto que podem mudar prontamente. Isso implica em decisões empresariais desafiadoras. Alguns dos principais periódicos multidisciplinares contêm até um terço de seu conteúdo publicado relacionado ao Plano S, mas não são compatíveis com o Plano S. Os periódicos de sociedades têm um papel central na comunicação em seu campo de pesquisa, mas nem sempre são de acesso aberto. A realocação dos títulos para o acesso aberto representaria 29% do movimento global no volume de artigos mais bem citados em relação aos já existentes, o que pode ser perturbador em algumas áreas de pesquisa.

No caso dos três principais periódicos interdisciplinares (Nature, Science e PNAS), o número e a porcentagem de artigos publicados em 2017, que reconheceu um financiador do Plano S está demonstrado na tabela a seguir. 

Recursos
O custo da publicação mudará, de ex post, pago pelo leitor ou por sua biblioteca, normalmente através de uma taxa de assinatura, para tornar-se ex ante, uma obrigação do autor ou de seu financiador, para pagar as taxas de publicação do artigo (APC). Isso exigiria um redirecionamento de cerca de € 150 milhões. Esses custos de pesquisa recairão sobre os financiadores. Não se sabe se os recursos estão disponíveis para apoiar todos os autores afetados. Hoje, a taxa cobrada pelos editores pela publicação de artigos em acesso aberto varia mas, em média, fica £ 2.401 em um periódico híbrido e £ 1.943 em um periódico listado no DOAJ (conforme relatado pelo Wellcome Trust).

Considerações finais

Já se passaram mais de 15 anos desde a publicação das Declarações de Budapeste (2003), Berlim e Bethesda (2004). Desde então, houve uma expansão significativa da publicação em acesso aberto e uma conscientização geral da importância do apoio a políticas de pesquisa aberta. Há também o reconhecimento de que nem todas as disciplinas estão prontas para o acesso aberto diante da atual estrutura de financiamento e a disponibilidade de revistas. De qualquer modo, representa uma mudança que, para ser implantada, necessita amplo diálogo entre os atores envolvidos.

== REFERÊNCIA ==

[1] QUADERI, Nandita ; HARDCASTLE, James; PETROU, Christos; SZOMSZOR, Martin. The Plan S footprint: Implications for the scholarly publishing landscape. Disponível em: https://clarivate.com/g/plan-s-footprint/ Acesso em: 15 março 2019.