SIBiUSP 30 Anos – A arte de ultrapassar fronteiras
Uma grande exposição em outubro e eventos mensais marcam as comemorações dos 30 anos de criação do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP. A ideia é discutir o papel do Sibi nesses seus 30 anos frente às novas tecnologias e o ciberespaço
SUELI MARA SOARES PINTO FERREIRA
especial para o JORNAL DA USP
O notável progresso da Tecnologia da Informação e da Comunicação promoveu, no final do século 20, mudanças significativas em todos os ramos da atividade humana, sendo que o universo da organização e da disseminação do conhecimento recebeu intenso impacto. Contextualizando a emergência da Sociedade do Conhecimento, Peter Drucker, em Sociedade pós-capitalista defendia a ideia de que se gestava silenciosamente uma nova categoria laboral, por ele genericamente denominada de trabalhadores do conhecimento. Mencionava ainda que estes seriam os principais operadores sociais do futuro, indivíduos capazes de alocar conhecimentos para incrementar a produtividade e gerar inovação. Não se tratava exatamente de uma ideia original, mas de uma temática que há muito vinha se debatendo na literatura especializada da comunicação e da informação.
Os câmbios no universo do registro do conhecimento já eram perceptíveis desde o princípio dos anos 1960, quando Marshal McLuhan publicou sua célebre Galáxia de Gutemberg. O fenômeno tornou-se indiscutível a partir da apropriação social do ciberespaço. A enorme expansão das mídias digitais suscitou um debate sobre o futuro das suas antecessoras impressas, fomentando a polêmica sobre o fim do livro, tema que desabou sobre si mesmo por falta de sustentabilidade, parafraseando Umberto Eco em Não contem com o fim do livro.
Passado o turbilhão da mudança, já nos é permitido olhar para trás e observar com serenidade parte dos efeitos da revolução tecnológica, avaliar o papel dos “trabalhadores do conhecimento” neste ambiente dinâmico com vistas ao planejamento do futuro. A tarefa se faz urgente quando se anuncia um novo ciclo de desenvolvimento no País, onde a matéria-prima fundamental será o conhecimento.
Mais premente é agir no âmago da Universidade de São Paulo, detentora de honroso primeiro lugar no ranking de produção científica na América do Sul. Neste contexto, a inserção do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP é imprescindível.
Revolução em papel – Criado em 1981, o sistema marcou uma revolução à época, integrando as atividades que vinham sendo desenvolvidas por diversas bibliotecas isoladamente. Naquele momento pautava-se em propostas advindas do Seminário de Bibliotecas Universitárias, ocorrido em Brasília de 20 a 24 de maio de 1974: “as bibliotecas se convertem em centros de decisiva importância nas universidades de hoje e de amanhã. Centros cujas características operacionais devem atender às demandas de seus usuários, agilidade de acesso, facilidade para uso, rapidez, atualidade, precisão e confiabilidade das informações nos diferentes graus de especialização”. Inicia-se com o conhecimento registrado em suportes físicos e acesso presencial à informação disponível nas próprias bibliotecas, com a formação dos respectivos acervos. Nesta trajetória busca alinhar-se aos avanços constantes e inevitáveis do ensino, pesquisa, extensão, com racionalidade de esforços e de recursos humanos, administrativos e financeiros.
Hoje, 30 anos depois, o sistema compreende a ação de cerca de 800 profissionais (nível superior, técnico e básico) em 44 bibliotecas alocadas em campi distribuídos por nove cidades do Estado de São Paulo. O foco orientador, identificado em 1974, permanece atual e urgente. Não obstante, sua discussão é vista sob novos prismas e olhares, e sua operacionalização ocorre de maneira diversa, cada vez mais pautada no avanço das tecnologias digitais.
Os produtos, serviços e projetos do Sibi passam a se desenvolver em torno de duas vertentes entendidas como suas responsabilidades principais: uma, aumentar a visibilidade e acessibilidade à produção intelectual da Universidade de São Paulo. A segunda, fomentar a formação e desenvolvimento de competências no uso, acesso e produção de informação da comunidade USP nas suas distintas áreas de atuação.
A vertente focada na produção intelectual desta universidade abrange diversas atividades para ampliar a qualidade e, consequentemente, a visibilidade, oferecendo ações diretas, de forma individual e coletiva, aos processos de comunicação e edição científicas. O foco atual e prioritário se concentra na discussão da política institucional de informação para a USP para o acesso aberto à sua produção de forma plena e irrestrita.
No que se refere à segunda vertente, sobressai a importância da articulação e construção de ações educativas em parceria com docentes, discentes e funcionários. Neste processo, pretende-se mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes, que levem ao aprendizado constante para a solução de problemas informacionais, com propostas inovadoras.
Pesquisa comemorativa – Para comemorar o trigésimo aniversário projetou-se uma pesquisa histórica para recuperar e refletir sobre a memória da informação científica e tecnológica da USP, seu contexto histórico e impacto no desenvolvimento de São Paulo, do Estado e do País, destacando a função social das bibliotecas do Sibi neste processo. Diversos desdobramentos desta pesquisa estão previstos para 2011, desde atividades mensais até exposição e um fórum. A exposição, ponto alto das comemorações do trigésimo aniversário do Sibi, acontecerá no começo de outubro.
As atividades mensais, que deverão acontecer na última segunda-feira de cada mês, englobam discussões entre comunidade uspiana e sociedade em geral, enfocando distintos temas emergentes sobre a gestão do conhecimento frente a temas como: sustentabilidade, novas mídias, responsabilidade social, internacionalização, acesso universal ao conhecimento, inclusão social, multiculturalismo, pesquisa científica, ensino na graduação e na pós-graduação, cultura e extensão.
A montagem da exposição histórica prevê o uso de infográficos e recursos multimídia estruturados de forma lúdica, atraente e interativa. O fórum de discussão amplo e aberto objetiva prospectar o cenário de atuação do Sibi 50 anos. Tal evento contará com a participação de renomados pesquisadores nacionais e internacionais, com ênfase para a evolução do livro e da informação, acesso aberto, novas plataformas de tecnologia e web 3.0, de instituições como: Universidade do Minho e Universidade do Porto (Portugal), Universidade de Harvard (EUA), Universidade de Southampton e British Library (Reino Unido), Universidade de Liège (Bélgica), Universidade de Yonsei (Coreia do Sul), Universidade Queensland (Austrália).
Neste contexto, novos desafios se descortinam: (1) o acesso aberto à produção do conhecimento em âmbito universal; (2) a revisão do modelo de cessão dos direitos autorais dos resultados de pesquisa a favor de licenças não exclusivas; (3) segurança e gerenciamento de dados; (4) acesso e recuperação, de maneira integrada, de conteúdos disponíveis em bibliotecas digitais; (5) conservação e preservação de acervos impressos e digitais; (6) formação e competência no uso da informação e na formatação de produtos científicos de qualidade; (7) internacionalização de serviços e produtos; são os temas que perpassam a rotina do SIBiUSP. Afinal, ultrapassar fronteiras é “mergulhar” na construção de uma universidade de excelência.
Para mais informações sobre os eventos comemorativos dos 30 anos do Sibi: www.sibi.usp.br.
Sueli Mara Soares Pinto Ferreira é professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e diretora do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP