Espaço de cidadania e inclusão social
Em comemoração aos 30 anos do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi), fórum discute a relação entre as bibliotecas da USP e a cultura e a extensão universitária, com o objetivo de ampliar a interação entre a Universidade e o público em geral
IZABEL LEÃO
As 44 bibliotecas da USP – espalhadas pelos sete campi da Universidade – são uma excelente maneira de a academia transferir serviços e conhecimentos para toda a sociedade. Com um acervo de mais de 6 milhões de volumes, cuidados por 800 funcionários, elas podem contribuir de maneira significativa para fortalecer a interação entre a USP, a comunidade interna e o grande público.
Essa foi uma das análises feitas durante o fórum As Bibliotecas da USP e a Extensão, realizado no dia 25 de julho no Auditório Myaki Issao da Faculdade de Odontologia da USP. O evento é parte das comemorações dos 30 anos do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP – a unidade que congrega as 44 bibliotecas da Universidade.
As comemorações incluem uma série de fóruns, que vem sendo realizada desde março, sempre com o objetivo de discutir o papel da biblioteca no contexto da sociedade do conhecimento. O Sibi planeja também, ainda neste ano, realizar um congresso internacional, promover uma exposição, lançar um livro e inaugurar um site (leia texto na página ao lado). O Sibi foi instituído em 8 de julho de 1981, por uma Resolução da Reitoria, substituindo a antiga Divisão de Bibliotecas e Documentação, e iniciou suas atividades em março de 1982.
Comunidade – No fórum do dia 25 de julho, as relações entre as bibliotecas da USP e a cultura e extensão universitária foram discutidas por professores de três museus da USP: Maria Cristina Oliveira Bruno, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), Carlos Roberto Ferreira Brandão, do Museu de Zoologia (MZ), e Denise Cristina Carminatti Peixoto Abeleira, do Museu Paulista (MP), também conhecido como Museu do Ipiranga.
Cristina Bruno falou sobre “A Cultura e a Extensão no MAE: desafios museológicos contemporâneos”. Ela analisou um documento elaborado pelo Ministério da Cultura e pela USP, denominado Carta de São Paulo: Políticas Públicas de Cultura e Extensão Universitária, lançado em setembro de 2010. A publicação trata dos diferentes modos como as atividades ligadas à cultura e à extensão universitária são vistas no ambiente acadêmico.
Cristina citou o MAE como exemplo do desenvolvimento da arqueologia brasileira, que está sempre buscando ações inovadoras através do equilíbrio entre ensino e pesquisa. “Os museus hoje fazem parte do estatuto universitário de forma autônoma, ampliando bastante o cenário do ensino. O processo curatorial dos museus desenvolve ensino e pesquisa, adicionados às atividades de cultura e extensão”, explicou. “Esse fato nos singulariza na Universidade.”
Ela apontou como um dos desafios dos museus fazer investimentos sistemáticos em ensino e pesquisa, para qualificar ainda mais as ações de cultura e extensão, além de avaliar os serviços prestados, a fim de conhecer as expectativas da sociedade.
Já o professor Carlos Brandão, falando a respeito do perfil dos profissionais brasileiros que trabalham com o patrimônio público, discorreu sobre o novo conceito de museu adotado atualmente e sobre a importância de as diferentes áreas dessas instituições – como bibliotecas e arquivos – trabalharem juntas.
Brandão disse que a definição de museus vem sendo ampliada há muitos anos. “Museu hoje em dia abarca toda a área de patrimônio, inclusive bibliotecas”, destacou. “Tanto que o Conselho Internacional de Museus, da Unesco, é um dos fundadores do Blue Shield, um órgão que resgata e protege a herança cultural dos países, com escritório no Brasil.”
Brandão citou um estudo que compara o profissional brasileiro da área de patrimônio com o de outros países. Os dados apresentados mostram, segundo ele, que os temas que mais preocupam os profissionais brasileiros não são exatamente os mesmos que preocupam os de outros países. Isso porque, explica o professor, são dados que refletem a história, cultura e ideologia próprias do Brasil. “A maior preocupação do profissional brasileiro é com o alcance social que museus, bibliotecas e arquivos devem ter, e não tanto com os aspectos técnicos de preservação, conservação e catalogação, como acontece no exterior. Outro aspecto ressaltado é o educacional, que procura proporcionar conhecimento ao público visitante do museu.”
Para Brandão, os profissionais que trabalham nos museus refletem o interesse da sociedade brasileira. O “complicado”, para Brandão, é que muitas vezes o interesse que os profissionais manifestam nem sempre corresponde às políticas públicas na área de museus. “Podemos dizer que existe um espaço para avançar, discutir e adaptar as políticas públicas aos interesses desses profissionais.”
Educação – Denise Abeleira, do Museu Paulista, dedicou sua palestra no fórum às ações educativas e culturais realizadas pelos museus. Para ela, o museu é o lugar por excelência da cultura e extensão universitária. Embora eles sejam também lugar de pesquisa e produção de conhecimentos, é neles que a interface com o público se dá de maneira mais intensa. “Através das exposições as pessoas se aproximam dos museus e, no caso da educação, o museu atua fazendo a ponte entre o conhecimento produzido, aquilo que está exposto e o público diversificado”, ressaltou.
Ainda a respeito da relação entre a museologia e a educação, Denise afirmou que todos os museus da USP, incluindo centros como a Estação Ciência e o Parque Cientec, desenvolvem ações educativas, atendendo aos mais variados públicos, inclusive com produção de material. “Os museus da USP, além de se preocupar com a socialização do público, também publicam, realizam seminários e oferecem cursos. A vida dos museus uspianos é bastante ativa.”
Para Denise, as bibliotecas dos museus podem ter uma atuação ainda mais ativa frente ao público visitante, oferecendo outras formas de aproximação, chamando a atenção do visitante e abrindo novas possibilidades de se relacionar com o material exposto no museu. Ela citou como exemplo atividades como rodas de leitura, grupos de estudo e grupos de pesquisa, que podem ser oferecidos com o objetivo de atrair mais pessoas de fora da comunidade universitária. “O profissional da biblioteca pode contribuir muito, pois tem conhecimento não só do seu acervo como também das áreas que esse acervo compreende.”
No Museu Paulista, onde Denise trabalha como educadora, a biblioteca é bastante especializada, atende aos pesquisadores e constitui tanto um repositório como um gerador de conhecimentos. Serve como lugar de busca da informação, de pesquisa, e conta com uma visitação intensa. “O nosso desafio é nos aproximarmos do público não-especializado, já que nossa expertise é com os especialistas” disse. “Precisamos, cada vez mais, promover ações que integrem esse público aos acervos da biblioteca do Museu Paulista.”
Discussões sobre o futuro da biblioteca
Os 30 anos do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP estão sendo comemorados em grande estilo. Além dos fóruns de debates que acontecem desde março e são organizados por equipes de bibliotecárias da Universidade, será realizado, entre os dias 7 e 8 de outubro, o Congresso Internacional Sibi 30 Anos Conhecimento: Acesso e Acessibilidade, no Memorial da América Latina, com atividades no período da manhã e da tarde. O evento contará com professores das Universidades do Minho e do Porto, em Portugal, de Harvard, nos Estados Unidos, de Southampton, na Inglaterra, de Liège, na Bélgica, de Yonsei, na Coreia do Sul, e de Queensland, na Austrália, além de representantes da British Library, de Londres.
Segundo a diretora do Sibi, professora Sueli Mara Soares Pinto, os pesquisadores internacionais virão discutir o futuro do livro, da biblioteca e da produção científica. “Queremos saber como estaremos ao completar 50 anos”, brinca.
No dia 6 de outubro – ainda como parte das comemorações dos 30 anos –, o Sibi inaugurará uma exposição, que terá como objetivo reconstituir a memória da informação científica e tecnológica através da discussão da função social das bibliotecas da USP. Deverá promover uma “reflexão retrospectiva”, que acompanhe a cronologia do desenvolvimento da Universidade.
A exposição terá infográficos e recursos multimídia estruturados de forma lúdica, atraente e interativa, segundo a diretora do Sibi. Durante todo o percurso, a exposição estará disponível em texto, áudio, braile e sistema de Libras. Todos esses eventos resultarão numa publicação impressa além de um site específico sobre os 30 anos.
De acordo com Sueli, o objetivo dos eventos promovidos pelo Sibi neste ano é refletir sobre o papel que as universidades têm frente a vários temas de ponta, como novas mídias, internacionalização, inclusão, responsabilidade social, ética e direitos autorais, multiculturalismo, pesquisa científica, ensino, cultura e extensão.
Há muitos desafios a serem enfrentados que perpassam a rotina do Sibi, acrescenta a diretora. Entre eles, ela cita o acesso aberto à produção do conhecimento, a revisão do modelo de cessão dos direitos autorais dos resultados das pesquisas a favor de licenças não-exclusivas, a segurança e gerenciamento de dados e o acesso e a recuperação, de maneira integrada, de conteúdos disponíveis em bibliotecas digitais. Há ainda temas fundamentais, como a conservação e preservação de acervos impressos e digitais, a formação e competência no uso da informação e na formatação de produtos científicos de qualidade e a internacionalização de serviços e produtos.
Sueli afirma que os eventos já realizados e os que ainda vão ser promovidos trazem para a pauta da discussão tudo o que já foi feito ao longo dos últimos 30 anos, o que pode ser feito e qual o futuro das bibliotecas universitárias, sempre com o objetivo de “ultrapassar fronteiras”. E, segundo ela diz, “ultrapassar fronteiras é mergulhar na construção de uma universidade de excelência”.