Novas tendências para as Bibliotecas: Top Trends 2016

SIBiUSP 2016

Por Sibele de Fausto e Elisabeth Dudziak

Analisar tendências para prever o futuro nunca foi uma tarefa fácil, mas na Biblioteconomia não faltam estudos. O Centro de Estudos da Biblioteca do Futuro (Center for the Future of Libraries) da Associação Americana de Bibliotecas (American Library Association – ALA), por exemplo, trabalha diariamente mapeando tendências relevantes para bibliotecas e para a biblioteconomia [1]. A revista New Review of Academic Librarianship lançou um número especial sobre o Futuro da Biblioteconomia [2]. A Society of College, National and University Libraries – SCONUL – do Reino Unido tem um projeto sobre “As Bibliotecas Acadêmicas do Futuro” (Academic Libraries of the Future), prevendo três cenários possíveis [3]. 

Trends

Agora, uma nova análise de tendências para bibliotecas acaba de ser publicada pela Associação de Bibliotecas Universitárias e de Pesquisa (Association of College & Research LibrariesACRL), uma divisão da ALA. A cada dois anos, o Comitê de Planejamento e Análise da ACRL publica um artigo abordando as principais tendências no ensino superior e sua relação com as bibliotecas universitárias. No relatório de 2016 são discutidas tendências como o gerenciamento de dados de pesquisa, pesquisa acadêmica digital, avaliação de coleções, fusões de provedores de conteúdo, evidência de aprendizagem, novas propostas para alfabetização dentro do quadro conceitual da ACRL para a literacia informacional, altmetria, cargos emergentes e recursos educacionais abertos. Abaixo, segue um resumo das principais tendências apontadas pela ACRL-ALA para 2016, em artigo publicado na College & Research Libraries News, v. 77 n. 6, p. 274-281, June 2016 [4]. 

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– Serviços de Dados de Pesquisa (Research Data Services – RDS) – Política de Dados e Gestão de Dados de Pesquisa (Research Data Management – RDM)

Dado que nos últimos anos várias organizações científicas nacionais e internacionais estão percebendo a necessidade do arquivamento dos dados de pesquisa, e que as agências de financiamento já começam a exigir que os dados da pesquisa financiada sejam armazenados em repositórios digitais públicos, as bibliotecas começam a oferecer uma prestação de serviços de informação e consulta relacionada aos dados de pesquisa, da mesma forma que oferecem serviços de busca e referência, mas ainda não prestam serviços técnicos de gerenciamento de dados de pesquisa, tais como o suporte para o projeto de pesquisa no preparo dos dados para o armazenamento em acesso aberto e reuso. Há bibliotecas que se unem em consórcio para trabalhar coletivamente e de forma mais eficaz com uma ampla variedade de tipos de dados. Esta tendência também leva em conta as políticas de dados e planos de gestão de dados como uma importante oportunidade para as bibliotecas, o que demanda o desenvolvimento profissional de bibliotecários em serviços de dados de pesquisa, aptos a operar nesse cenário de mudanças. 

– Academia Digital (Digital Scholarship)

As bibliotecas estão desenvolvendo centros de pesquisa digitais, muitas vezes em parceria, a fim de avançar os processos de ensino e pesquisa. Estes centros ampliam os métodos tradicionais de pesquisa através da aplicação de novas tecnologias, tais como dados de sistemas de informação geográfica (Geographic Information System – GIS), gerenciamento de ativos digitais, preservação digital, formação, consulta e ferramentas para o conhecimento acadêmico digital. A Academia Digital (Digital Scholarship) abrange tanto a comunicação científica que utiliza a mídia digital quanto a pesquisa em mídia digital, em estreita relação com as Humanidades Digitais. Tal tendência envolve, além dos desafios associados à criação de espaços para parcerias em pesquisa acadêmica digital, o reconhecimento do papel dos bibliotecários como prestadores de serviços e colaboradores necessários na pesquisa; o planejamento de programas para grupos diversos e educação continuada. Essa tendência assegura que o valor da biblioteca é focado principalmente na atenção às necessidades emergentes, cumprindo sua missão e compromisso com seus usuários.

– Tendências de Avaliação de Coleção (Collection Assessment Trends)

Houve uma mudança perceptível na avaliação das coleções que agora se estabelece como um processo de fluxo contínuo baseado na demanda (Patron-Driven Acquisition – PDA), a partir de abordagens (qualitativas e quantitativas) mais holísticas e ágeis. Devido às restrições orçamentárias, o foco está na flexibilidade e sustentabilidade, no “Rightsizing” – tamanho certo da coleção – assegurando que as coleções sejam “sensíveis” em abordar adequadamente as necessidades de pesquisa e o currículo das instituições. Assim, as bibliotecas criaram o papel do analista de aquisições e estão utilizando novas ferramentas (como a visualização, a análise preditiva), novas fontes de dados, utilizando consultores sem fins lucrativos e alavancando consórcios. Outras tendências são a avaliação de conteúdos de acesso aberto e sua integração com as coleções tradicionalmente assinadas pela biblioteca, e a reavaliação dos modelos de pagamento pay-per-view. 

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– Fusões de provedores de conteúdo para sistemas de bibliotecas (ILS and content provider/fulfillment mergers)

Grandes editoras de revistas continuam a se fortalecer, gerando um impacto significativo nos preços, orçamentos e negociações institucionais. Há uma tendência de concentração em plataformas de conteúdo, a exemplo do Yankee e Coutts, comprados respectivamente pela EBSCO e pela ProQuest, e a Ex Libris adquirida pela ProQuest. Ainda que a infraestrutura e os recursos dessas fusões e aquisições possibilitem maior eficiência, inovação e integração, limitam o mercado e sua repercussão é difícil de ser prevista. Editoras como Elsevier, Springer, Wiley-Blackwell, Taylor & Francis concentram mais de 50% dos artigos científicos de todas as áreas de conhecimento, controlando, em geral, mais da metade do mercado de publicação de artigos científicos, tanto nas áreas de Ciências Médicas e Naturais como nas Ciências Sociais e Humanas. Além disso, essas grandes editoras comerciais têm altos níveis de vendas com margens de lucro de quase 40%. 

– Evidencia de aprendizagem: sucesso dos estudantes, aprendizado analítico e acreditação (Evidence of learning: Student success, learning analytics, credentialing)

O sucesso dos estudantes continua a ser uma questão importante para as instituições de ensino superior, onde os critérios de financiamento e acreditação tendem a basear-se no desempenho, com ênfase nos resultados da aprendizagem, retenção e matrículas. Existem métodos para aumentar o sucesso do aluno como a formação de comunidades de aprendizagem, apoio e incentivos para a conclusão do curso, tutoria entre pares, aulas invertidas (Flipped Classroom – FC), módulos de aprendizado aprofundado (Deeper Learning), e programas de aprendizagem adaptativos para calouros. As bibliotecas podem atuar como parceiros-chave participando das estratégias de sucesso dos alunos no ensino superior, também realizando os seus próprios estudos, avaliações e iniciativas. Uma importante iniciativa é o Programa de Avaliação em Ação ACRL (ACRL’s Assessment in Action – AIA), a partir do qual é analisado o impacto da biblioteca (instrução, referência, coleções, espaço e etc) na aprendizagem e no sucesso do estudante. Em 2016, a ACRL publicou o relatório ACRL “Putting Assessment into Action: Selected Projects from the First Cohort of the Assessment in Action Grant” (“Colocando a avaliação em ação: projetos selecionados do primeiro grupo da Avaliação em Ação”), que mostra com evidência convincente as contribuições das bibliotecas na aprendizagem e no sucesso dos alunos. O documento resume mais de 60 relatórios de projetos individuais desenvolvidos anteriormente, identificando algumas fortes evidências das contribuições positivas de bibliotecas universitárias à aprendizagem e sucesso do aluno.

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– Novos rumos com a Estrutura para a Competência Informacional no Ensino Superior (New directions with the Framework for Information Literacy for Higher Education)

A nova estrutura adotada pela ACRL [4] com relação à Competência Informacional no Ensino Superior reconhece a informação como um ecossistema e encoraja os bibliotecários a seguir uma agenda mais ampla, que considera a competência em informação (information literacy) como um “conjunto de capacidades integradas que abrangem a descoberta reflexiva de informações, compreensão de como a informação é produzida e valorada; o uso da informação na criação de novos conhecimentos e participação ética em comunidades de aprendizagem”. A Fluência Digital (Digital Fluency) integra a competência em informação. Ser fluente digital significa não apenas ser capaz de utilizar as mais recentes tecnologias de mídia social e redes para produzir e compartilhar, como também ser capaz de compreender questões mais complexas, tais como a gestão da identidade digital, questões éticas e contradições do engajamento e interação constantes. A Competência Informacional Crítica (Critical Information Literacy) é outro conceito que aparece nessa nova estrutura e coloca a biblioteconomia em um quadro teórico crítico (biblioteconomia crítica) que é epistemológico, auto-reflexivo e ativista por natureza. Significa enfatizar o processo, mais do que focar nos resultados. A nova estrutura também enfatiza o conceito de “privilégio informacional”, que envolve tornar as pessoas mais conscientes das estruturas de poder e autoridade, que podem privilegiar certas vozes e informações, em detrimento de outras, e que resulta em uma variedade de interpretações e perspectivas. Essa nova abordagem considera, em certo sentido, o viés político da competência em informação e abre espaço para uma atuação mais crítica do bibliotecário educador, algo que não era possível na estrutura anterior. 

– Altmetria (Altmetrics)

As mídias sociais estão mudando a maneira como interagimos, como apresentamos ideias e informações e como avaliamos a qualidade do conteúdo e das contribuições. Nos últimos anos tem havido centenas de plataformas para compartilhar livremente todos os tipos de informações e se conectar através de redes. Estas novas ferramentas geram estatísticas de atividades e interações entre usuários, que reunidas, compõem a Altmetria (Altmetrics), que coleta  uma complexa série de comportamentos nas mídias sociais online, incluindo leituras, bookmarks sociais, compartilhamentos, anotações, discussões e recomendações em plataformas como o Twitter e o Mendeley, fornecendo dados sobre o impacto social da pesquisa. Estes dados podem ser valiosos para complementar os indicadores de impacto tradicionais, mas primeiro é necessário uma compreensão aprofundada dos sistemas que produzem esses dados, incluindo a necessidade de definições específicas, estratégias para melhorar a qualidade dos provedores de dados, promovendo a utilização de identificadores persistentes e métodos transparentes de cálculo dos tipos específicos de resultados da pesquisa, etc, Embora muitas questões técnicas e de implementação em relação à Altmetria permaneçam, seu uso por repositórios, editoras, revistas e plataformas científicas está crescendo.

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– Perfis Profissionais Emergentes (Emergent Staff Positions)

Na primavera de 2015, a Escola de Informação da Universidade Estadual de San Jose analisou 400 anúncios de emprego recentes para bibliotecários. As tendências gerais que emergiram dessa análise são: a familiaridade com a tecnologia e suporte técnico, foco na experiência do usuário, suporte para serviços virtuais, humanidades digitais e gestão do conhecimento. O setor empresarial também está cada vez mais interessado em profissionais com essas habilidades. Colaboração, trabalho em equipe e comunicação estão entre as habilidades mais comuns em todas as descrições de trabalho. Os candidatos a emprego são encorajados a manter-se a par das novas tecnologias, análise de dados e visualização, e sistemas de informação geográfica (GIS).

– Recursos Educacionais Abertos – REA (Open Educational Resources – OER)

Os Recursos Educacionais Abertos (REA) estão experimentando um desenvolvimento importante no ensino superior nos Estados Unidos, em função do aumento da consciência pública sobre o alto custo dos livros didáticos de nível universitário. Esta crescente consciência pública pode levar ao desenvolvimento de uma ampla gama de infra-estruturas para abordar não só o desenvolvimento dos REA nos campi, como também soluções de hospedagem e descoberta dos REA. Em fevereiro de 2016, a Amazon anunciou o desenvolvimento de uma plataforma de REA orientada para o mercado K-12 [designação para a educação primária e secundária usada nos Estados Unidos] e ensino superior. As bibliotecas universitárias podem colaborar apoiando a política dos REA, auxiliando na procura por materiais de qualidade e no desenvolvimento profissional em torno dos direitos de autor, licenciamento aberto e design integrado aos cursos. Em 2015, a ACRL criou uma força-tarefa dedicada aos REA. 

Referências

[1] AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. ALA. Center for the Future of Libraries. Disponível em: <http://www.ala.org/transforminglibraries/future/trends#Organization and Classification of Trends> Acesso em: 22 junho 2016.

[2] New Review of Academic Librarianship. Special Issue: Academic Librarianship and the Future. June 2016. Disponível em: <https://scholarship.libraries.rutgers.edu/esploro/outputs/991031549914004646?institution=01RUT_INST&skipUsageReporting=true&recordUsage=false> Acesso em: 21 junho 2016.

[3] Society of College, National and University Libraries – SCONUL. Academic Libraries of the Future. Disponível em: <http://www.sconul.ac.uk/page/academic-libraries-of-the-future> Acesso em: 21 junho 2016. 

[4] ASSOCIATION OF COLLEGE & RESEARCH LIBRARIES. ACRL Research Planning and Review Committee. 2016 top trends in academic libraries: A review of the trends and issues affecting academic libraries in higher education. College & Research Libraries News, v. 77 n. 6, p. 274-281, June 2016. Disponível em: <http://crln.acrl.org/content/77/6/274.full> Acesso em: 20 jul. 2016. 

[5] ACRL. Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: <http://www.ala.org/acrl/standards/ilframework >. Acesso em: 20 jul. 2016.

Como citar este post [ABNT/NBR 6023/2002]:

FAUSTO, Sibele de; DUDZIAK, Elisabeth. Novas tendências para as Bibliotecas: Top Trends 2016 2016. Disponível em: <https://www.aguia.usp.br/noticias/tendencias-bibliotecas-top-trends-2016-acrl-ala/> Acesso em: DD mês. AAAA.